Um pouco sobre o Coletivo

by Coletivo Segunda Opinião

despertando

O projeto A Casa dos Homens teve início no segundo semestre de 2012 e deu origem ao Coletivo 2a Opinião. As pessoas envolvidas nesse projeto estavam em busca de uma forma de criação semelhante ao Processo Colaborativo – tantas vezes experimentado dentro das aulas de Direção do Departamento de Artes Cênicas da USP – mas que fosse horizontal, sem hierarquias. Para tanto, o grupo acordou que, no processo criativo da peça, cada pessoa teria um olhar e uma contribuição específicos (direção, dramaturgia, iluminação, trabalho de ator, sonoplastia etc) para a obra, além disso, todas as decisões seriam feitas coletiva e consensualmente. Outro acordo feito previamente pelos integrantes do projeto foi o de que haveria alternância de funções dentro do coletivo durante o processo para que todos desenvolvessem uma visão geral do funcionamento do organismo teatral.

O projeto teve como mote propulsor a obra “Para Acabar com o Julgamento de Deus” de Antonin Artaud. Depois de uma série de debates e exercícios teóricos a partir dessa obra, chegamos a dois paradoxos que nos interessavam explorar: linguagem e confinamento / instituição e repressão. Começamos explorando tais paradoxos dentro do âmbito manicomial, muito presente na vida de Artaud e consequentemente em sua obra. A partir da escolha da temática a ser explorada, iniciaram-se os ensaios práticos, que baseavam-se em:

 

–        Exercícios de aquecimento e de improvisação tirados do livro “Jogos para Atores e Não-Atores” de Augusto Boal;

–        Debates sobre material textual trazido por algum integrante do grupo sobre temáticas adjacentes;

–        Workshops: respostas cênicas a alguma temática específica levantadas nos improvisos ou nos debates.

 

As questões relacionadas ao contexto manicomial, aos poucos, deram lugar a um intenso debate sobre gênero: a heteronormatividade, o patriarcado, a opressão de gênero, a construção da masculinidade, a luta feminista, a luta LGBTT, entre outros. Autoras como Ana Cristina César, Virgínia Woolf, Hilda Hilst, Valérie Solanas, Emma Goldman, Roswitha Scholz, Rosely Gomes Costa e o autor Daniel Welzer-Lang foram estudados e debatidos. Integrantes do grupo participaram de eventos com coletivos que tinham acúmulo sobre essas questões como: Rizoma Tendência Autônoma Libertária, Marcha das Vadias, ONG Elas por Elas, Associação de Travestis e Transexuais, ASTRA LGBT, Coletivo Jovens Feministas, Coletivo Homens Feministas, Bateria do Mau do Ocupa Sampa, grupo de gênero do ELAOPA (Encontro Latino-Americamos de Organizações Autônomas) etc. O grupo participou de palestras, seminários e debates sobre questões relacionadas a essas temáticas. O coletivo assistiu a filmes e peças de teatro, colheu matérias publicadas em jornal, revistas ou na Internet. A partir de cada material teórico, os participantes do processo propunham novos Workshops.

Proposições textuais começaram a ser feitas a partir dessas vivências.  Workshops a partir dessas proposições textuais começaram a ser levantados e, pouco a pouco, cenas foram sendo criadas. A dramaturgia foi se solidificando. Em dezembro de 2012, ficou pronto o primeiro protótipo dramatúrgico e realizou-se uma abertura de processo  no espaço do Condomínio Cultural Mundo Novo – um hospital na Vila Anglo-Brasileira que foi desativado em 1998 e hoje está sendo transformado em um centro cultural. Após a apresentação, houve um debate sobre a peça com todos os presentes interessados.

O Coletivo 2ª Opinião, através de uma encenação que se baseia em formas surrealistas, explorou estas questões sociais que determinam o universo da diversidade de gênero na concretude das práticas públicas e também subjetivamente. O que é memória e o que é invenção já não pode ser definido, no decorrer das noites as figuras apresentadas em cena percorrem uma trajetória de esclarecimento e conscientização crítica, assumindo, portanto, o processo de politização do próprio corpo e de sua visão de mundo.

Em fevereiro de 2013 o grupo retomou o processo a fim de retrabalhar a dramaturgia segundo as questões levantadas no debate realizado no Condomínio Cultural Mundo Novo. Em março, o grupo teve a oportunidade de fazer uma nova abertura do processo na Mostra de Experimentos do TUSP. Após a apresentação, foi realizado um novo debate sobre a peça com todos os presentes interessados. A partir daí, mudou-se o título da peça – de “Bom Dia (Ruína)” para A Casa dos Homens – e começaram os ensaios de aprofundamento de interpretação, que têm previsão de fechamento para o mês de junho desse mesmo ano.